Em 12 de outubro de 1903, o governo de Minas Gerais inaugurou a instituição psiquiátrica: Hospital Colônia de Barbacena e, a partir desta construção, a cidade mineira ganhou a alcunha de “Cidade dos Loucos”.
O manicômio de Barbacena fez parte de uma construção de 7 prédios que abrigavam diferente unidades de tratamento, onde os pacientes eram separados por sexo, idade e características físicas. A instituição foi fundada com capacidade para 200 leitos, porém contava com cerca de cinco mil internos em 1961.
Esta instituição não era responsável somente por pessoas da cidade de Barbacena, o hospital recebia diariamente pessoas de diferentes locais do país e todos chegavam até o local de trem, conhecido como “trem de doido”, nomeado pelo escritor Guimarães Rosa, que trabalhou brevemente como médico neste local. Além dessa menção de Guimarães Rosa, este trem levou as pessoas fazerem comparações com os campos de concentração nazista, os quais também usavam trens.
As pessoas eram internadas pela própria família e tais internações eram justificadas pelo decreto presidencial 24.559 de 1934 baixado por Getúlio Vargas, portanto, qualquer pessoa tinha a liberdade de solicitar a internação de alguém em um hospital psiquiátrico, bastava ter um atestado médico.
As pessoas internadas e esquecidas no Manicômio de Barbacena e nos demais do país eram aquelas indesejadas pela sociedade, como mulheres abandonadas pelos maridos, pessoas com deficiência, homossexuais, alcoólatras, militantes políticos, mães solteiras, mendigos, negros, pobres, indígenas, prostitutas, entre outros. Os hospitais psiquiátricos eram instituições para esconder todos que não pertenciam à normalidade determinada pela sociedade.
As torturas físicas eram rotina em qualquer manicômio no Brasil, entre as mais conhecidas estavam banhos por máquinas de alta pressão, tratamentos de choque, banheira com gelo, agressões físicas. Além disso, muitos internos sofreram estupros.
Em Barbacena, o período de maior mortalidade foi registrado durante a Ditadura Militar. Estima-se que 60 mil vidas foram perdidas neste manicômio e 70% dos internados sequer foram diagnosticados com doenças mentais.
O Hospital Colônia de Barbacena foi fechado somente nos anos 80 e, em 1996, um dos pavilhões transformou-se no Museu da Loucura, com o objetivo de manter viva essa triste e dolorida história, para que nunca mais tais crimes sejam cometidos.
Atualmente, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) é a responsável pelo hospital que acolhe 200 sobreviventes, porque após o fechamento do manicômio, muitos internos foram transferidos para abrigos com melhores condições e passaram a receber indenização do Estado.
Referência:
ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil. Rio de Janeiro, INTRÍNSICA, 2019.