Quais as histórias que eu carrego?
A busca pela minha ancestralidade iniciou dentro de um museu e se firmou na ausência.
O encontro com os objetos do meu tataravô Antonio, português, jornalista, político condecorado no Brasil e em Portugal e quem fundou a primeira casa espírita de Laguna. A sua pluralidade trouxe-me curiosidade para saber mais e, quando me coloquei nesse caminho, descobri invisíveis e ausentes.
Ancestrais que foram escondidos e não registrados por serem filhos da Terra. Nomes apagados, galhos esquecidos da minha árvore.
Ao buscar os invisíveis, encontrei uma linhagem real em uma família cor da terra. Contam os antigos, que a descendente real, Maria Leopoldina, na janela se encantou por aquele simples homem em seu cavalo, o Vicente Ventura da Silva, e com ele tiveram o Zequinha. Meu avô, pai de meu pai, que curou seus filhos com os rituais do povo da Terra.
Eu sou a primeira Andréa de uma família de primogênitos Andrés; meu nome carrega a história dos antepassados da família materna de minha avó Maria, mãe de minha mãe. Andréa vem daqueles que saíram do antigo Império da Prússia e chegaram às terras de Santa Catarina.
Cresci sabendo que no meu sangue corria sangue dos povos da terra, porém cresci sem saber as histórias e seus nomes e fui crescendo procurando em meu rosto os detalhes dessa história, até que vi naquele nariz tão odiado, pois os colegas de infância o usavam para rir de mim, a história da minha avó Lina, minha tecedora de sonhos, mãe de meu pai. Ao perceber que o meu nariz era o nariz de meu pai e o mesmo nariz de minha avó, eu vi o povo da terra que foram os ancestrais de minha avó. Eu não sei o povo, a língua, o rosto ou seus nomes, porém, eu sei como foram os seus narizes.
Meus ancestrais carregam histórias diversas que fazem parte da minha história.
Um dia, eu serei uma ancestral: Andréa, a brasileira.
Qual história eu estou cultivando para os meus descendentes carregar?
Psicóloga Andréa Ventura
CRP 07/22940