Sim, o profissional da Psicologia pode ter uma religião e praticar alguma crença espiritual. Porém, ao psicólogo é vedado “induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais” (artigo 2o do Código de Ética).
Portanto, enquanto o psicólogo estiver no seu consultório, este não poderá tentar convencer ou converter seus pacientes às suas crenças. Cuidado, nós não podemos converter nossos pacientes às nossas convicções, mas é primordial o psicólogo receber as crenças de seus pacientes. Infelizmente, nós encontramos muitos profissionais que não querem e não aceitam a religião no seu consultório, porém, a fé de nossos pacientes deve ser escutada e acolhida com respeito.
A religião faz parte da vida humana desde os primórdios e podemos encontrar exemplos da expressão religiosa em cavernas e em antigas construções, constituindo, assim, um componente importante do desenvolvimento da nossa existência.
A religião é um campo de estudo para muitos psicólogos, pois por fazer parte do ser humano, é uma porção importante que deve ser considerada e estudada por aqueles que estudam a mente.
Eu iniciei a estudar as histórias das religiões em 1999 e o descobrimento das diferentes expressões da fé humana levou-me ao interesse pelos estudos da mente e do inconsciente; foi assim que eu descobri as pesquisas de Carl Gustav Jung, o qual buscou compreender os fenômenos religiosos pelo viés da psicologia.
Jung considerava todas as religiões válidas, visto que todas recolhem e conservam imagens simbólicas advindas do inconsciente, elaborando-as em seus dogmas e, assim, realizando conexões com as estruturas básicas da vida psíquica.
No meu trabalho como psicóloga, eu ainda tenho como foco os estudos sobre as religiões e como esses fenômenos se expressam na mente e no comportamento, além disso, considero as histórias religiosas símbolos importantes de transformação, assim como os contos de fadas e mitologias (que são religiões antigas) podem ser usados como exemplos para trajetórias da vida humana.
Atualmente, eu tenho dois grupos de estudos que faço interligações com duas diferentes crenças: nos estudos sobre Ecopsicologia, eu trago a história da antiga fé celta que possuía conexão com o ciclo da natureza, já no grupo de estudos sobre as emoções, eu busquei no Budismo representações simbólicas para auxiliar na compreensão.
Em síntese, os profissionais da psicologia podem ter religião, serem feministas, fazerem parte de um partido político, entretanto, quando estiver na frente de seu paciente, o dever ético é acolher as convicões deles e não induzí-lo às suas.
Psicóloga Andréa Ventura da Silva